Atualizado: 12/6/2011 1:37

Paulo Liebert/AE
"Imigração. Passageiros desembarcam no trem da Vale que liga o Maranhão ao Pará, principal meio de transporte dos novos moradores de Marabá"
Pela linha férrea entre Parauapebas e o porto de São Luís, no Maranhão, o minério de ferro se esvai do Pará e os imigrantes chegam. Três noites por semana, centenas deles desembarcam em Marabá, a cidade mais violenta do Brasil, mas também objeto dos sonhos dos recém-chegados, atraídos pela expectativa de empregos em uma siderúrgica de US$ 3,2 bilhões e outros empreendimentos.
A onda migratória faz com que Marabá, principal município do sudeste paraense, passe pela mais radical transformação urbana em andamento no País: de 2009 até 2014, sua população terá um incremento de 50% e chegará a 306 mil pessoas, segundo estudo da própria Vale, controladora da siderúrgica e até do trem que despeja os novos moradores. Já a prefeitura, que sonha fazer da cidade a capital do futuro Estado de Carajás, prevê que o número de habitantes dobrará no mesmo período.
O crescimento é desordenado, para dizer o mínimo. Nos últimos anos, dezenas de ocupações irregulares - nove delas com mais de 11 mil famílias - brotaram nos três principais setores da cidade, cujo desenho segue as curvas dos Rios Tocantins e Itacaiúnas. Nos bairros regularizados, os aluguéis mais que dobraram.
Os 30 mil empregos diretos e indiretos relacionados à siderúrgica ainda são uma miragem - a obra está em fase de terraplanagem e ocupa algumas centenas de operários. Além disso, oito em cada dez imigrantes não têm a qualificação mínima necessária para ocupar as vagas que serão abertas, segundo estimativa da prefeitura.
Não há bairro que esteja livre do tráfico e do consumo de crack e óxi, drogas derivadas da pasta de cocaína vinda da Colômbia, de acordo com a polícia. Disputas por território, acertos de contas e latrocínios alimentam um círculo vicioso de vinganças e crimes por encomenda. Entre 2002 e 2009, foram 1.408 assassinatos.
Marabá e outras cidades do chamado Polígono da Violência - região do sudeste paraense com altos índices de homicídios - são um dos alvos da Operação Em Defesa da Vida, ação emergencial do governo federal que congrega militares, Força Nacional de Segurança, Polícia Federal e outros órgãos.
Loteamento clandestino. 'O metro quadrado daqui já está valendo mais do que o de bairros estabelecidos há mais de 15 anos', afirma Josavias Saraiva, um dos líderes comunitários da invasão conhecida como Jardim da Paz - nome alvo constante de ironias, já que cinco dirigentes da associação de moradores foram assassinados em quatro anos.
À frente de Saraiva está um mapa do loteamento, que a comunidade tenta regularizar - passo necessário para a chegada de benfeitorias como saneamento e escolas. 'Veja que ficamos quase no centro da cidade', diz ele, indicando com os dedos que a Rodovia Transamazônica está a cerca de 800 metros. Em Marabá, a Transamazônica é, na prática, uma avenida - a cidade se desenvolveu em torno dela. 'E aqui será a Alpa', completa Saraiva, referindo-se à Aços Laminados do Pará, a siderúrgica em construção a 14 quilômetros dali, nas margens da rodovia.
O Jardim da Paz foi criado à força, quando cerca de 450 famílias invadiram um remanescente de fazenda nas margens do Rio Itacaiúnas. Em 2010, um censo feito pelos próprios moradores contabilizou 2.446 famílias no local.
Questionado sobre a origem desses habitantes, Saraiva sorri. 'Alguém aí não é maranhense?', pergunta, dirigindo-se a uma fila na associação de moradores. Ninguém se manifesta. 'Aqui os imigrantes são uns 90%', diz ele.
'A cidade recebe hoje cerca de 250 novos moradores por dia', afirma o delegado Alberto Teixeira, superintendente da Polícia Civil no sudeste do Pará. Ele próprio um recém-chegado - está desde fevereiro em Marabá -, Teixeira não hesita ao relacionar os altos índices de criminalidade ao crescimento desordenado. 'Não há empregos para todas essas pessoas. Quem acolhe os jovens é o tráfico.'
A taxa anual de homicídios em Marabá chegou a 133 por 100 mil habitantes em 2009, segundo o Sistema de Informação de Mortalidade, do Ministério da Saúde. É a taxa mais alta do País. Em Honduras, o país mais violento do mundo, o índice é de cerca de 60/100 mil.
A Comissão Pastoral da Terra (CPT), que dá assessoria jurídica para os moradores de ocupações irregulares, vê com preocupação a 'propaganda oficial' da onda de investimentos em Marabá.
'Nos municípios aqui em volta, não se fala de outra coisa', afirma José Batista Afonso, advogado da CPT. 'Todo mundo acha que vai conseguir emprego, mas a maioria só tem experiência na roça.' / COLABOROU JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO, ESPECIAL PARA O ESTADO
Infelizmente o que se vê é fato: O clã dos Sarney perpetua a miséria e a falta de perspectivas ao seu povo, sempre tendo como base as alianças espúrias e incoerentes que a política nossa oferece. Em troca, nos manda essa enxurrada de infelizes, sem nenhuma capacitação ou especialidade. Não quero que me interpretem mal, não tenho nada contra os maranhenses (afinal, meu pai também é de origem maranhense), inclusive tenho muitos amigos de lá, mas o que se percebe é que a população maranhense é a grande culpada em permitir e aceitar como fato consumado a penúria à qual sofrem, com as bençãos da familia Sarney. Agora eles também pensam em se dividir, mas tenho dúvidas se isso será benéfico àquela região, assim como também tenho dúvidas sobre a emancipação de Marabá com relação à cidade cedente (Belém). A violência em nossa região, fora de controle, é reflexo desse êxodo que vem do estado vizinho, esperançosos em ter uma vida mais digna e decente. Os números refletem isso: 250 novos moradores por dia, na sua maioria nem tem onde morar e apelam para as invasões. Estou aqui há exatos 3 meses e vejo que não é fácil se manter numa cidade que caminha a passos largos pro desenvolvimento pleno, mas ainda negligente na área social, nas políticas públicas para amenizar o sofrimento dessa gente que chega aqui em busca de um futuro melhor pra sí, mas que só contribuem para a bagunça reinante.
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