quinta-feira, 28 de abril de 2011

REPORTAGEM: Renato Russo e Cazuza; A Poesia Sobrevive Sempre


Cazuza e Renato russo tiveram trajetórias similares. Que ambos
eram vocalistas de banda de rock, que eram excelentes letristas e marcaram não só o rock brasileiro, mas a música brasileira, todos
sabemos; eles nos deixaram um legado de lirismo e força que ficará para sempre marcado em nossos corações. Selecionamos aqui algumas falas que demonstram quantas coincidências mais há entre esses dois ídolos.

Segundo Lucinha Araújo, mãe de Cazuza, “numa tarde de sexta-feira, ele (Ezequiel Neves) saiu mais cedo e contou depois que Cazuza pareceu estranho e sereno. Ouvia pouco e quase não dizia nada. Era como se meu filho dissesse ‘deixa pra lá’. Cazuza tinha dito a Zeca que queria assistir ao show da Legião Urbana no dia seguinte. Renato Russo, no dia 07 de julho, dia da morte e sepultamento de Cazuza, dedicou o show a ele”.

À noite, no Jockey Club Arena do Rio de Janeiro, Renato entrou no palco com a sua banda e disse: “Eu quero falar algumas coisas aqui. Eu vou falar de mim. Eu tenho mais ou menos 30 anos, sou do signo de Áries, eu nasci no Rio de Janeiro, eu gosto da Billie Holliday e dos Roling Stones, eu gosto de beber pra caramba de vez em quando, também gosto de milkshake. Eu gosto de meninas, mas eu também gosto de meninos. Todo mundo diz que eu sou meio louco. Eu sou cantor numa banda de rock’n roll. Eu sou letrista e algumas pessoas dizem que eu sou poeta. Agora eu vou falar de um carinha. Ele tem 30 anos, ele é do signo de Áries, ele nasceu no Rio de Janeiro, ele gosta da Billie Holliday e dos Rolling Stones, ele é meio louco, ele gosta de beber pra caramba. Ele é cantor numa banda de rock, ele é letrista, e eu digo: ele é poeta. Todo mundo da Legião gostaria de dedicar esse show ao Cazuza”.

Certa vez, Cazuza disse: “(...) eu tenho orgulho de fazer parte de uma geração que tem o Renato Russo, o Arnaldo Antunes, o Lobão, uma geração que acabou com essa história de que rock é bobagem. O rock já não é uma coisa da qual se possa debochar... A gente está com uma força de palavras, as pessoas estão ouvindo o que o Renato Russo fala, o que o Lobão fala... Por mais que cada um tenha caminhos loucos, eles estão falando”.

Em 1995, Renato Russo disse: “As pessoas vem, as pessoas vão... e o Cazuza foi e faz muita falta. Eu, sinceramente, sinto muito a falta dele, porque ele era uma espécie de ponto de referência, sabe? Nós temos o mesmo signo, a mesma idade, gostamos de Billie Holliday e de milkshake... Mas ele se foi... só que eu acho que a poesia dele fica para sempre... Eu me lembro que no lançamento de Que País é Este, em 87, o cazuza foi lá, já bem doente. Ele me disse uma vez que foi aquele negócio de ‘inveja criativa’ e quando ele ouviu Que País é Este foi aquela inspiração p/ ele escrever Brasil, que é uma das músicas... mais importantes. E todo mundo fala nos músicos dos anos 80... e o interessante disso é que Cazuza não é só dos anos 80... é pra sempre.”

(Por Adriaa)

Um comentário:

  1. É impressionante como o brasileiro tem uma memória (pra não dizer a alma) pequena. Dia desses estava a comentar a falta que eu sentia de ouvir a voz de CLARA NUNES, cuja infância minha foi embalada com suas músicas. ELIS REGINA também foi uma companhia constante em minha tenra infância, nas chamadas jovens tardes de domingo.
    CAZUZA e RENATO RUSSO foram, ao seu modo, duas perfeitas traduções do que é o Rock and Roll na sua essência real: Lirismo, (ante)visão de fatos e acontecimentos, irreverência e deboche na medida certa, sempre pautados num instrumental visceral e coerente com a mensagem à ser cuspida, no seu grito primal. "A raiva é uma energia", diria JOHN LYNDON (ex SEX PISTOLS). E era justamente esse sentimento genuíno que se fazia notar nas composições de ambos, traduzindo fielmente as angústias, agruras e esperanças de uma geração à qual faço parte com muito orgulho. Daí talvez a minha paixão pela poesia, na arte de cantar e decantar minhas impressões desse mundo carcomido pela apatia, pelo descaso, pela falta de bom senso.
    A morte de CAZUZA só não me chocou por que ali se estava presenciando a crônica de uma morte anunciada. Então era questão de tempo presenciar o desenlace prematuro de um artista que tanto fez pela arte. Mas o falecimento de RENATO RUSSO me doeu mais, pois a impressão que eu tinha era de ter perdido meu irmão mais velho, aquele que procura te orientar e de desviar-te das armadilhas do mundo, sempre com muito amor e atenção. Um vazio muito estranho me arrebatou. Começei a cantar todas as músicas dele com fúria, com paixão e indignação com o que eu estava presenciando. Ficou o vazio e a enorme certeza de que não haveria ninguém para substituí-lo. O Rock nacional de hoje carece de cérebros, de idéias e de ATITUDE, ou seja, uma grande bobagem comercial sem destino e sem meta! Saudades imensas dos nossos dois inesquecíveis poetas do Rock Brasil.

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